Comentei na minha última publicação aqui para vocês que hora ou outra iria falar dos desafios, dos problemas, das falhas, dos erros. Engraçado, já repararam que todos falam do sucesso, frases de efeito, tudo indicando que você vai vencer. Acho maravilhoso, e as vezes, em dias mais negativos, ler algo nesse sentido nos ajuda. Mas, raramente vemos um perfil de rede social, montagens exaltando ou falando do erro. Posso parecer radical, mas acho que errar não deve ser algo não incentivado. Ao não incentivar o erro, você está desestimulando uma pessoa a arriscar.
Nunca conheci alguém que tenha resolvido arriscar a empreender e não tenha errado. Alguns erros custam “mais caro”, outros são mais fáceis de contornar, mas a verdade é, você vai falhar, você vai errar.
Já nascemos e crescemos em uma sociedade em que achamos que temos que ter sucesso em tudo: é só isso que nos passam. Ou seja, você cresce com essa “pressão”, o caminho é o sucesso! Dificilmente te preparam demonstrando que você até pode conseguir, um dia, chegar ao topo, mas que antes irá falhar e com isso você deveria se preparar psicologicamente para as conseqüências dos seus erros.
Como se preparar para essas conseqüências? Eu sinceramente não sei, mas acredito que o caminho seja fazendo, arriscando e nunca esquecendo que isso vai ocorrer. E assim, quando falhar você ter a consciência dos erros cometidos, como melhorar e como reverter, caso seja possível.
Mas para um empreendedor social o erro pode ser ainda mais “doloroso”. Como lidamos com impacto social, impactamos pessoas, comunidades e se falhamos com elas, o erro pode ser bem custoso. Digo custoso não no sentido financeiro, mas em todas as perspectivas.
Vou compartilhar alguns erros ao longo de dois anos e meio na Volunteer Vacations, empresa social que idealizei e cofundei com os meus sócios Alice Ratton e André Fran. Quem sabe vocês não se identificam e também possam ver que errar é humano sim, que faz parte, mas que principalmente devemos evoluir com esses erros e tirar deles a força que precisamos para continuar e fazer um trabalho ainda melhor.
De forma bem direta e prática vou passar alguns erros e como os resolvemos.
1. Parcerias erradas
O negócio da VV é delicado, pois nosso modelo envolve parceria com ONGs, instituições, associações, etc, no Brasil e no mundo. E essas parcerias são feitas com cuidado, pois precisamos da melhor instituição, que seja correta, que tenha transparência fiscal e que de fato trabalhe com o impacto social. No início da VV fizemos algumas parcerias na base da “confiança”, NÃO FAÇAM ISSO! Por mais que as vezes você tenha uma amizade com seu parceiro e fornecedor, faça de forma mais profissional e siga todas as etapas que você tenha institucionalizado, mesmo que seja com um amigo que esteja firmando a parceria. Erramos nisso, acabamos fazendo com uma ONG pouco correta, que querendo ou não nosso nome fica vinculado a ela e com isso tivemos que romper, o que causou um desgaste interno, horas de reuniões, trocas de e-mails e a quebra de uma parceria. O tempo que se perde no futuro com o desgaste é muito maior do que se no início você de fato tiver seguido o seu passo a passo do seu processo.
2. Falha na comunicação interna
Lançamos um curso recentemente, esse curso é o novo braço educacional da VV. Na VV Thinking estamos investindo em educação e capacitação de empreendedores sociais. Internamente temos que resolver detalhes para iniciar o curso e queríamos que o primeiro fosse impecável com brindes para os alunos etc. Internamente ocorreu uma falha de comunicação da nossa equipe e uma das coisas entregues aos alunos saiu errada, o que custou um desgaste interno. Mas nada que de fato impactasse diretamente nos nossos clientes. Contornamos internamente, mas ficou a lição, SEMPRE COMUNICAR, se certificar, mesmo que de forma repetitiva, vale a pena, e por fim, SEMPRE DEIXAR REGISTRADO POR E-MAIL, é certamente ainda o melhor caminho para oficializar tudo.
3. Erro no business plan sobre perspectiva de crescimento no mercado
Qual um dos maiores desafios quando se inicia uma empresa? Ou uma startup? Prever o seu retorno, prever a aceitação do mercado. Na VV o desafio foi ainda maior, estávamos literalmente criando um novo mercado, um novo negócio ainda sem concorrentes diretos no país. Na falta de benchmarking no Brasil, pegamos um no exterior. O que não levamos em consideração em nossos cálculos e previsões? Que justamente a nossa cultura não é a mesma que, por exemplo, nos EUA; que o voluntariado “está no sangue” deles, nas escolas, nas faculdades, e que com isso uma empresa do tipo da VV que nasce lá, vai crescer de forma mais efetiva que aqui, onde temos que, até hoje, batalhar para trazer mais para a cultura brasileira o voluntariado, que é diferente de caridade, que já praticamos muito no Brasil. Não levando isso em consideração calculamos que nosso retorno viria mais cedo do que de fato tem vindo. O mercado em si, seus clientes não sentem isso, mas para os sócios é sentido internamente e se você não acredita no seu negócio e não enxerga essa falha, pode levar a te desestimular e até mesmo desistir, fato que ocorre na maioria das novas empresas em seu primeiro ano. Conosco percebemos essa diferença e essa falha, e nos deu ainda mais incentivo, pois vimos a oportunidade, somos os pioneiros e vamos fazer disso nossa missão também, a de trazer ainda mais para a cultura brasileira o hábito do voluntariado, o poder do trabalho voluntário.
Para aqueles que têm interesse em empreender e tem medo dos erros, ou ainda não sabe se está começando da forma correta, recomendo a leitura desse livro, Zero a Um, do Peter Thiel.