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Gabriel Cardoso

Advocacy é o tema do ano para o setor social


Quem trabalha no setor social já sabe que a agenda é repleta de eventos – encontros, palestras, talks, cursos, mesas redondas, congressos e assim por diante. Afinal, não perdemos uma chance de trocar experiências e ampliar nosso impacto social. A novidade então não é a quantidade de eventos, mas sim um tema que, apesar de historicamente fazer parte do cotidiano do terceiro setor, ainda é uma novidade para muitos. Este tema é advocacy. Além de ser fortemente mencionado no congresso do GIFE que aconteceu em São Paulo em março, esse tópico é a principal temática de uma capacitação da FGV na mesma cidade, assim como de um programa inédito de capacitação e ideação chamado Sua Curitiba, organizado pelo Instituto Legado a partir da iniciativa de diversas organizações sociais na capital paranaense.

Em linhas gerais, o advocacy é um processo organizado, com um objetivo e plano de ações bem definidos que incide em políticas públicas, seja na criação, alteração e reforço destas ou até mesmo na prevenção de eventuais mudanças que poderiam ser contrárias ao interesse público.

Mas por que o setor social está cada vez mais interessado em incidir em políticas públicas? Porque percebemos que, muitas vezes compelidos pelo senso de urgência, os nossos trabalhos são focados apenas nos efeitos gerados pelo problema, sem explorar profundamente os motivos que o geram. Dessa maneira, ao combater os efeitos, mas não também as causas, os problemas tornam a surgir.

Assim, as causas reais de um problema social só podem ser resolvidas por uma ação estruturada que modifique profundamente as raízes dessas causas. Nessas situações, as organizações precisam mobilizar mecanismos que permitam uma transformação consistente da realidade, e que podem envolver desde aspectos normativos (como uma lei) a aspectos culturais (como costumes de uma determinada região). Essa ação estruturada consiste justamente no advocacy, termo que ainda não recebeu uma boa tradução no português, mas que pode ser entendido como “incidência em políticas públicas”.

1ª turma Sua Curitiba

Não se faz advocacy do dia para a noite. E nem se faz sozinho. Dentre as ações planejadas necessárias, deve-se pensar em formas de conscientizar a população a fim de mobilizar a opinião pública a respeito da causa defendida, assim como buscar formar coalizões de interessados na causa. Em seguida, realiza-se o contato direto com os tomadores de decisão para informá-los e influenciá-los, sendo esta interação definida como “lobby”. Perceba assim que esta interação com o poder público, tipicamente a etapa mais evidente do advocacy, é apenas um instrumento para levar interesses da sociedade ao conhecimento dos tomadores de decisão. E como qualquer outro instrumento não é bom ou ruim em si, dependendo do como e por que é utilizado.

Elaborar uma campanha de advocacy exige a coleta detalhada de evidências que servirão para orientar a mobilização dos atores pertinentes e formadores de opinião e na definição de um plano de ações. Além disso, é importante também investir no constante monitoramento por meio de metas e indicadores que servem para avaliação do andamento do processo e para alimentar um fluxo contínuo de aprendizado. Entretanto, apesar de poder parecer complexo e até mesmo “inatingível”, realizar transformações por meio do advocacy é completamente possível, seja para um cidadão, uma comunidade ou uma organização. Basta planejar adequadamente cada uma das etapas e realizá-las, passo-a-passo, estando aberto às mudanças, oportunidades e dificuldades que surgirão durante o processo.

Dada a complexidade do tema, foi lançado o edital Sua Curitiba. E para nossa grata surpresa, recebemos calorosa recepção dos cidadãos, das organizações sociais, das universidades e dos meios de comunicação. Mesmo com prazo apertado de divulgação, somente um mês após o surgimento da ideia de criar o projeto, as inscrições foram numerosas e uma banca de onze avaliadores foi estruturada pra o processo de seleção. E neste último sábado, dia 20 de agosto, a surpresa foi ainda maior na aula inaugural. Mesmo com frio e chuva, trinta e cinco pessoas de 21 iniciativas selecionadas decidiram investir suas próximas manhãs de sábado ao tema. É realmente inspirador estar rodeado de pessoas com visão de longo prazo e dedicados a promover mudanças positivas na cidade. Juntos temos ainda mais nove encontros até o final do ano, nos quais desenharemos propostas de políticas públicas para a cidade e construiremos juntos campanhas de advocacy para que as causas defendidas nestas propostas continuem em voga, antes, durante e após as eleições municipais.

O setor social está atento a esta significativa ferramenta de transformação social. E você, já sabe como construir uma campanha de advocacy?

 

* Escrito por Liza Valença Ramos, mestre em Políticas Públicas e gestora voluntária de projetos, e Paulo Cruz Filho, gerente executivo do Instituto Legado de Empreendedorismo Social.

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