Negócios sociais possuem um duplo ponto de partida: gerar lucro e impactar a sociedade. Para impactar a sociedade, se estruturam em torno de soluções para um ou mais problemas sociais. E, sabemos, problemas não faltam no Brasil e no mundo: há de segurança, energia, corrupção, saúde, meio ambiente e outros, que esperam por pessoas com iniciativa e propostas inovadoras e que tenham comportamento social empreendor para solucioná-los. E, de todos os problemas que esperam por solução, um dos maiores e mais importantes é a educação (ou a falta dela).
Propor soluções inovadoras para problemas educacionais pode gerar grande impacto social e os resultados serão observados pela sociedade no curto, médio e longo prazos. Uma sociedade bem-educada é uma sociedade que gera menos problemas em segurança, energia, corrupção, saúde e meio ambiente. É por isso que os negócios sociais que buscam soluções para esse tipo de problema estão em uma das categorias das que mais recebem incentivo de investidores e apoio da grande imprensa.
Dentro de tal contexto, vale citar uma descoberta feita na semana passada que promove os principais exemplos de inovação na educação mundial: o `InnoveEdu: experiências inovadoras em educação´, liderado pelo Inspirare e pelo PorVir, a ação organizou 96 iniciativas espalhadas pelo mundo “que traduzem cinco importantes tendências capazes de tornar o aprendizado significativo e conectado com as demandas do século 21”. Tais experiências são operacionalizadas por diversos tipos de agentes: universidades tradicionais, organizações não governamentais e, claro, por negócios sociais.
Ao entrar no site, o visitante pode filtrar as experiências de três formas isoladas ou combinadas: (1) tipo de inovação, (2) onde a inovação acontece e (3) qual a tendência educacional que se baseia o projeto.
No filtro de tipo de inovação, ela pode ser incremental ou disruptiva. A incremental é aquela que aperfeiçoa algo existente. Por exemplo, a Jovo Brasil, uma das organizações listadas, utiliza a tecnologia VOIP para a transmissão de informações a jovens quilombolas da Ilha de Maré, na Bahia, que possuem acesso limitadoà internet . Já a inovação disruptiva é aquela responsável por abrir novos mercados, quebrando paradigmas pré-estabelecidos e, com isso, criando ou mudando um setor de consumo; neste caso, a educação. Um dos exemplos apresentados é o Colégio Fóntan, na Colômbia, instituição privada sem aula e sem séries, que tem por objetivo promover o autodidatismo dos alunos.
No segundo filtro do site, buscando saber onde as experiências acontecem, o visitante pode escolher as que ocorrem em escolas, em comunidades, em casa ou online; estes, tradicionalmente, os quatro principais ambientes utilizados na educação. A School Enterprise Challenge, por exemplo, é uma competição global de empresas criadas por alunos dentro da escola. Já a Growing Communities of Readers, da África, é um projeto que conecta jovens nas comunidades com livros e literatura por meio de seus celulares. E, enquanto a Radiophone na Índia oferece programas educativos em casa com os personagens da Vila Sésamo, o Remind é um aplicativo online que troca mensagens entre professores, pais e estudantes.
Por fim, há o filtro das cinco grandes tendências na educação: (a) Competências para o Século 21, (b) Personalização, (c) Experimentação, (d) Uso do território e (e) Novas Certificações.
A primeira tendência, Competências para o Século 21, trata do conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes que preparam os alunos para a vida acadêmica, profissional, pessoal e em comunidade, que vão além das tradicionais e trabalhadas na educação tradicional. (Abordei tal tema no capítulo três do meu livro). As novas competências, definidas de diversas formas, podem ser a capacidade de atingir objetivos (perseverança, autocontrole e entusiasmo), de trabalhar em equipe (cordialidade, respeito e cuidado) e de gerenciar emoções (autocontrole, otimismo e confiança). Um exemplo visto no site é a Kaospilot, da Dinamarca, escola que tem em seu cerne o estímulo ao empreendedorismo, inovação e criatividade.
Quando se fala em Personalização, a segunda tendência, trata-se das estratégias pedagógicas diversificadas que levam em consideração que os alunos aprendem de formas e em ritmos diferentes, já que também são distintos seus conhecimentos prévios, interesses e habilidades. Aqui, cabe citar a brasileiríssima Geekie, uma plataforma adaptativa que ajuda os alunos a estudar na medida de suas necessidades. Há outras inicitivas brasileiras na lista e entre elas o projeto Primeiro Livro, onde o professor Luís Junqueira, de São Paulo, trabalha a escrita do primeiro livro de seus alunos de ensino fundamental, apoiando-se na questão da liberdade de criação, desde a primeira ideia até a publicação da obra [Crédito da imagem: PorVir].
A Experimentação, terceira tendência explorada, refere-se a atividades que estimulam os estudantes a construírem seus conhecimentos a partir da elaboração de um projeto que faça sentido para a vida real (aprendizagem mão na massa ou hands-on). Um dos diversos exemplos que o InnoveEdu apresentou é a Me & My City, da Finlândia, que leva as crianças para uma cidade em miniatura, onde simulam atividades profissionais reais. Tal tendência também é encontrada de forma expressiva em um país o qual cultivo enorme admiração: a Alemanha. No Museu de Ciência e Tecnologia de Munique, por exemplo, grande parte do acervo está projetado para que crianças o manipulem, utilizem e experimentem, podendo criar afinidade e simpatia pelo tema ainda na infância [Crédito da imagem: yrityskyla].
Já a quarta tendência, chamada de Uso de Territórios, defende que o aprendizado não ocorre apenas dentro da escola e busca utilizar os ativos do entorno para ampliar tempo, espaço e agentes da aprendizagem. Um bom exemplo de tal tendência é o projeto brasileiro Quintal das Crianças, que usa espaços com brinquedos feitos de recursos naturais que unem educação regular e não-formal. Outro, o movimento UnCollege, defende que o jovem possa estudar e aprender sem ter que frequentar a universidade.
A quinta e última tendência, Novas Certificações, advoga que oportunidades de aprendizado são diversificadas e não acontecem apenas pela transmissão de conteúdo dentro do ambiente acadêmico e que deve-se reconhecer – e certificar – todas as competências adquiridas ao longo da vida, por meio de diferentes experiências educativas, como cursos online, estágios em laboratórios, realização de projetos e trabalhos voluntários. Há nesse caso o exemplo do Projeto Minerva: uma universidade de ponta, sem campus, em que estudantes vivem em sete cidades ao longo de quatro anos [Crédito da imagem: Minerva.kdi].
Em torno da educação nacional há muita especulação e uma certeza: é um grande problema que está a espera de soluções e inovações de empreendedores sociais, pois o Estado, não me resta mais dúvidas, não conseguiu fazer frente às transformações do mundo.
Você acredita no poder transformacional da educação? Que tal se preparar para empreender socialmente transformando sua vida, de sua comunidade e, mudando, assim, o mundo? Mãos à obra!
Fraternal abraço!
Gabriel Cardoso
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