Independentemente da crise econômica e institucional que o Brasil está enfrentando – e que de acordo com o prognóstico dos analistas está somente no início -, as necessidades de mudança e melhoria que o nosso país precisa são urgentes.
Nosso país, como todos sabem, possui um enorme rol de problemas urgentes que precisam de solução. Possuímos uma das maiores taxas de violência do mundo, educação que se configura nas avaliações internacionais como defasada e precária, sistema de saúde estrangulado e ineficiente, enorme déficit de moradia, falta de acesso das classes menos favorecidas aos serviços bancários básicos, corrupção endêmica em todos os níveis da sociedade, dentre outros grandes problemas.
As instituições que estão buscando solucionar os problemas que enfrentamos diariamente, além de iniciativas isoladas na sociedade civil, são, principalmente, as públicas, as ONG´s e as empresas privadas.
Das públicas – que costumo metaforizar como um grande elefante, já que apesar da enorme força, não possui agilidade necessária - esperamos, sentados e passivos, que apresente a solução para todos os nossos problemas. Como pode o povo brasileiro esperar que os governos solucionem verdadeiramente os problemas da coletividade se ao mesmo tempo consideram a classe política como a corrupta e mentirosa de todas? Como?
As ONG´s também fazem um grande e importante papel, mas como formigas, não possuem força e amplitude necessária para grandes impactos sociais.
Há também as organizações privadas que por meio da oferta de bens e serviços (alguns casos unida a uma política de responsabilidade socioambiental) possuem grande impacto na economia de uma nação, mas que a razão de existir não contempla questões sociais.
O trabalho de tais instituições - públicas, privadas ou sem fins lucrativos - é importante, sim. Mas como estamos vendo, ele simplesmente não é suficiente. Ainda há uma enorme lacuna entre o que está sendo realizado e o que pode e ainda precisa ser realizado. Esta lacuna exige abordagens novas e mais sustentáveis para enfrentar os desafios sociais mais importantes e urgentes do Brasil.
E qual poderia ser a primeira abordagem complementar às tradicionais? O empreendedorismo social. Esta pode ser a solução mais revolucionária e duradoura para os problemas que enfrentamos.
A partir do empreendedorismo social surgem os negócios sociais. Segundo a Comissão Europeia, “negócio social é um operador da economia social cujo principal objetivo é gerar, ao invés de somente lucros para seus proprietários, impacto social. São dirigidos para fornecer bens e serviços ao mercado em um formato empreendedor e inovador e usam seus lucros primeiramente para alcançar objetivos sociais”.
Os empreendedores sociais atuam, portanto, como agentes de mudança positiva em suas comunidades, cidades e regiões, solucionando problemas crônicos e agudos da sociedade, por meio de novas abordagens. Eles iniciam soluções sustentáveis que causam impacto social positivo. Ao contrário de empresários tradicionais, os empreendedores sociais buscam, principalmente, gerar "valor social", ao invés de somente lucros. E, ao contrário da maioria das organizações sem fins lucrativo, os negócios sociais possuem como missão não apenas ações imediatas e de pequena escala e, mas em grande parte enfatizam mudanças radicais e de longo prazo.
Durante a última década, a cena do empreendedorismo social tem crescido tremendamente. Seja nas áreas de educação, saúde, transporte, segurança ou desenvolvimento urbano, tem-se visto pequenos-grandes líderes inovadores a assumir os problemas da sociedade que vive e estabelecer seus empreendimentos sociais para solucioná-los. Eles reconhecem que a caridade, isoladamente, não é sustentável, e as empresas que somam impacto social com geração de receita (com fins lucrativos ou não) são necessárias para um impacto sustentável em longo prazo. Tão diferente quanto suas experiências e conhecimentos podem ser, esses empreendedores são motivados por um objetivo comum: o desejo de mudar o mundo.
Viver em uma sociedade em que praticamente apenas carreiras profissionais - como Médico, Engenheiro, Advogado – são procuradas (e grande parte dos quais estão desempregados) não é suficiente. O que o país precisa desesperadamente, agora mais do que nunca, é um ecossistema que promova o espírito social empreendedor através de todas as carreiras e profissões. Um ecossistema com terreno fértil para a inovação, onde os empreendedores sociais não surjam por meras coincidências, mas como resultado da formação deliberada para um impacto maior. Como bem traduziu Muhamad Yunus, precisamos sair do paradigma de buscar empregos para um novo paradigma de gerar empregos, e com eles todos os benefícios sociais e econômicos necessários a uma vida coletiva mais plena.
O Brasil precisa, portanto, de mais pessoas para se tornarem empreendedores sociais, impulsionando mudanças positivas na sociedade e no mundo. Ao invés de continuar depositando as esperanças do futuro nos governos que se sucedem, precisamos de novas soluções. Talvez não exista melhor opção para sair da “sempre atual” crise que o Brasil está enfrentando do que a difusão e adoção do empreendedorismo social.
Gostou? Compartilhe!